🌑 Amor Amarrado
Capítulo 1 – A Tentação do Proibido
A casa era imensa, rodeada de jardins impecáveis e muros altos que escondiam um mundo de luxo. Dona Lourdes trabalhava ali há anos, como empregada doméstica. Era uma mulher simples, de mãos calejadas, que se orgulhava do serviço bem-feito. Sua filha, Clara, ainda muito jovem, acompanhava a mãe em alguns dias para ajudar, sempre discreta, andando de cabeça baixa pelos corredores brilhantes da mansão.
Clara tinha apenas dezessete anos quando os olhos dela cruzaram pela primeira vez com os do patrão, doutor Augusto. Ele era um homem maduro, dono de negócios de transporte em Pernambuco, respeitado na sociedade e pai de cinco filhos. Casado com a elegante dona Beatriz, vivia uma vida aparentemente perfeita. Mas a presença de Clara despertou nele algo perigoso.
No início, eram apenas olhares. Um elogio aqui, uma pergunta desnecessária ali. “Está estudando, Clara?” “Como está sua mãe?” Pequenas aproximações, até que um dia, quando a casa estava silenciosa, ele arriscou segurar a mão dela por segundos a mais do que o necessário. Clara ficou sem ar.
Ela nunca havia tido um namorado de verdade. O coração disparava quando ele passava perto. Aquele homem representava tudo o que ela nunca tivera: segurança, riqueza, maturidade. Aos poucos, começou a se render ao jogo sedutor.
Foram encontros rápidos, escondidos. Primeiro no escritório da casa, depois em viagens “de trabalho” onde arrumava desculpas para levá-la. Clara se apaixonou com a intensidade inocente de quem não sabe os riscos de amar um homem proibido. Para ela, ele era um príncipe em pele de empresário. Para ele, apenas uma aventura deliciosa.
As noites de paixão eram secretas, mas intensas. Clara vivia dividida entre a culpa e a felicidade. A mãe, alheia a tudo, confiava na filha e jamais imaginava que o próprio patrão — aquele que dava o emprego que sustentava sua casa — estava corrompendo sua menina.
Os meses se passaram. Clara começou a sonhar com uma vida diferente: casar-se com Augusto, ter filhos, morar em uma daquelas casas enormes da cidade. Era jovem demais para perceber que tudo não passava de ilusão.
Até que um atraso no ciclo menstrual acendeu o alerta. Primeiro, ela negou. Depois, comprou um teste escondido e se trancou no banheiro da mãe. As duas linhas vermelhas surgiram diante de seus olhos como uma sentença: grávida.
Quando contou a Augusto, esperava proteção. Ele a ouviu em silêncio, acendeu um charuto e depois disse com frieza:
— Isso não pode acontecer, Clara. Não posso ter mais um filho, ainda mais com você.
Ela chorou, implorou, disse que o amava. Ele se levantou, colocou o paletó e apenas murmurou:
— Esqueça. É melhor você e sua mãe irem embora daqui.
No mesmo dia, dona Lourdes foi chamada ao escritório e, sem explicação, recebeu a ordem de se retirar da casa onde havia trabalhado metade da vida. Saiu com uma mala nas mãos e lágrimas nos olhos, sem entender por que o patrão havia se tornado tão cruel de repente.
Clara, de barriga já começando a despontar, desmoronou. Perdeu o chão. Perdeu o emprego da mãe. Perdeu a ilusão do amor. Naquele momento, entendeu que estava sozinha.
Mas o destino, irônico como sempre, ainda colocaria outro homem em sua vida. Alguém que já a observava de longe, apaixonado e obsessivo. Alguém que, em breve, mudaria completamente sua história.
Capítulo 2 – O Motorista e o Feitiço
As semanas após a expulsão foram um verdadeiro inferno para Clara e sua mãe. Sem ter para onde ir, as duas passaram a viver de favor na casa de uma tia distante, em um bairro simples de Olinda. Clara se sentia envergonhada e perdida. Carregava uma barriga em crescimento e uma ferida no coração.
Nas noites silenciosas, chorava sozinha, lembrando-se do brilho dos olhos do patrão, dos toques secretos, das promessas veladas que nunca se cumpriram. Tinha apenas dezoito anos, mas já carregava a marca de uma desilusão que parecia envelhecê-la.
Foi nesse período sombrio que reapareceu na vida dela Antônio, um motorista de ônibus conhecido na região. Ele sempre tivera olhos para Clara. Era mais velho, de modos simples, mas trabalhador. Ao encontrá-la na feira, não conseguiu disfarçar a surpresa ao vê-la grávida.
— Clara? É você mesmo? — perguntou, com um misto de alegria e incredulidade.
— Sou eu… — respondeu, cabisbaixa, tentando evitar comentários.
Antônio já a havia convidado para sair algumas vezes no passado, mas ela nunca dera atenção. Agora, diante de sua fragilidade, ele viu a oportunidade de se aproximar.
Começou a visitá-la, trazendo frutas, ajudando a carregar sacolas, oferecendo pequenas gentilezas. Mas, no fundo, Antônio tinha seus limites: não queria compromisso com uma mulher grávida. Em conversas com amigos, dizia:
— Gosto dela, mas não é pra casar. Não com um filho de outro homem.
Clara percebia isso e se fechava ainda mais. Porém, dona Lourdes, sua mãe, não aceitava a ideia de ver a filha sozinha, abandonada e marcada pela vergonha. Em segredo, buscou ajuda.
Numa noite chuvosa, foi até uma mulher conhecida como Mãe Zefa, uma rezadeira de bairro que também mexia com trabalhos de amarração. Lourdes chorou, contou sua história e pediu:
— Minha filha precisa desse homem. Ele é bom, trabalhador. Não pode rejeitá-la. Faça ele casar com ela.
Mãe Zefa apenas sorriu, pegou uma vela vermelha e alguns objetos pessoais que Lourdes trouxera e murmurou:
— Se é isso que você quer, ele não terá olhos para mais ninguém. Vai amar sua filha até o fim.
Dias depois, como se algo tivesse mudado dentro dele, Antônio começou a agir diferente. O interesse superficial deu lugar a uma paixão ardente. Passou a aparecer todos os dias, declarando-se, dizendo que não conseguia viver sem Clara.
Ela estranhava. Não entendia como o homem que parecia apenas querer uma aventura agora falava em casamento, em família, em futuro.
— Não faz sentido… — murmurava, desconfiada.
Mas Antônio insistia:
— Eu quero você, Clara. Quero criar essa criança como se fosse minha.
Pressionada pela mãe, que dizia ser aquela a única chance de recomeço, Clara acabou cedendo. Em poucos meses, casaram-se numa cerimônia simples, apenas no cartório, com poucos convidados.
Antônio não apenas levou Clara, mas também a sogra para morar com eles. Montou um pequeno lar, simples mas aconchegante. Quando o bebê nasceu — um menino de olhos claros, tão parecido com Augusto, o verdadeiro pai —, Antônio chorou de emoção.
— Esse é o meu filho. O filho que Deus me deu — dizia, embalando o menino nos braços.
O que Clara não sabia é que Antônio carregava um segredo doloroso: anos antes, por causa de uma doença grave, havia perdido a capacidade de ter filhos. Para ele, aquele menino era mais do que um enteado: era a realização de um sonho impossível.
Com o tempo, o amor dele se tornou devoção cega. Já Clara, embora grata pelo apoio, sentia o coração cada vez mais distante.
Era como se algo a prendesse. Algo invisível, sufocante. Quanto mais Antônio a amava, mais ela se sentia enojada, sufocada, sem forças. Não entendia que havia ali mais do que paixão: havia uma amarração, uma corrente invisível que selava o destino dos dois.
E assim, ano após ano, aquele casamento construído em cima de feitiço e obrigação começou a se transformar numa prisão.
Capítulo 3 – Prisão Invisível e o Despertar do Amor
O tempo passou, e a vida parecia seguir um rumo estável. Antônio levantava cedo todos os dias para dirigir seu ônibus, voltava cansado, mas sempre com flores simples ou pequenos agrados para a esposa. Fazia questão de dizer o quanto a amava, repetindo como um mantra:
— Você é tudo pra mim, Clara. Você e o nosso menino.
Para os vizinhos, eles eram uma família modelo. A jovem que havia sido rejeitada pelo patrão agora tinha um marido dedicado, uma casa organizada e um filho saudável. Mas por trás das paredes daquela casa, a realidade era muito diferente.
Clara sentia repulsa em cada gesto de carinho. Não suportava os beijos demorados, nem o toque insistente nas madrugadas. Fazia o possível para evitar intimidade, inventava desculpas, fingia dores de cabeça. Antônio, enfeitiçado, não percebia. Ao contrário: quanto mais ela se afastava, mais ele insistia.
— Por que você não me quer, Clara? Eu daria minha vida por você. — dizia, com lágrimas nos olhos.
Ela apenas desviava o olhar, sem coragem de dizer a verdade: “Porque não é amor, Antônio. Nunca foi.”
O menino crescia, alegre, chamando-o de pai com inocência. Isso só aumentava a devoção de Antônio, que se orgulhava em mostrar ao mundo o filho que nunca poderia ter tido. A cada aniversário, chorava emocionado. Para ele, Clara e o menino eram sua razão de viver.
Mas para Clara, a vida era uma prisão. Uma corrente invisível a prendia àquele homem que ela não amava. Era como se estivesse em dívida, obrigada a viver um papel que não lhe cabia. E, no fundo, algo nela gritava por liberdade.
Foi a educação que lhe deu a primeira chance de respirar. Incentivada por uma professora do bairro, Clara se inscreveu no vestibular para Serviço Social. Contra todas as expectativas, passou. Antônio, orgulhoso, a apoiou sem desconfiar que a universidade se tornaria o palco de sua maior perda.
Naquele ambiente novo, cheio de ideias, livros e pessoas diferentes, Clara começou a sentir que o mundo era muito maior do que o lar sufocante que tinha. Fez amizades, sorriu de novo, descobriu conversas que iam além de comida, casa e rotina.
E então ela a conheceu.
Marina, uma colega de turma, diferente de todas as outras pessoas que Clara já havia encontrado. Marina tinha um jeito leve de falar, olhos castanhos que transmitiam confiança e um sorriso que parecia enxergar fundo na alma. Ao lado dela, Clara sentia paz. Sentia-se vista. Sentia algo que jamais havia experimentado com nenhum homem.
No início, era apenas amizade. Longas conversas no corredor, estudos em grupo, risadas compartilhadas. Mas pouco a pouco, Clara percebeu que o coração batia diferente. Que esperava ansiosa cada encontro. Que sorria sozinha ao lembrar do jeito doce de Marina arrumar os cabelos atrás da orelha.
Numa tarde chuvosa, estudando juntas na biblioteca, as mãos das duas se tocaram sem querer. Clara sentiu um arrepio que percorreu todo o corpo. Marina percebeu, mas não disse nada. Apenas a olhou, com um silêncio que dizia mais do que mil palavras.
Naquela noite, deitada ao lado de Antônio, Clara chorou em silêncio. Pela primeira vez, sentia que estava viva. Que existia amor verdadeiro. Mas também sentia medo: medo do marido, medo da sociedade, medo de si mesma.
Enquanto isso, Antônio começava a notar algo estranho. Clara estava mais distante do que nunca, saindo de casa sempre com desculpas ligadas aos estudos, voltando tarde, sorrindo sozinha, e evitando ainda mais o contato íntimo.
Seu coração, já dominado pela amarração, se enchia de ciúme e desespero.
E assim, enquanto Clara descobria o amor em braços proibidos, Antônio mergulhava em uma obsessão doentia, incapaz de entender que nada poderia quebrar a verdade que ela sentia dentro de si.
Capítulo 4 – O Amor e a Perseguição
Clara nunca havia sentido tanta vida dentro de si. Com Marina, tudo era diferente. Não havia cobrança, não havia peso, não havia dívida. Existia apenas a simplicidade de estar junto, de sorrir com liberdade, de se sentir desejada não pelo corpo, mas pela alma.
Elas começaram a passar cada vez mais tempo juntas. Primeiro, nos corredores da faculdade. Depois, em cafés escondidos. E, por fim, em motéis discretos da cidade.
No silêncio dos lençóis, Clara se descobriu. Descobriu o prazer, o carinho, a cumplicidade. Era um amor que a transformava.
Mas a felicidade vinha acompanhada de um medo constante. Antônio já desconfiava. Ele notava os sorrisos dela ao mexer no celular, as desculpas para chegar tarde, o perfume diferente ao voltar para casa.
Certa noite, sem avisar, ele a seguiu até a faculdade. Viu quando ela saiu rindo ao lado de Marina, os olhares trocados, a proximidade. O sangue ferveu em suas veias.
No caminho de volta, explodiu:
— Quem é aquela mulher, Clara?
Ela, assustada, tentou disfarçar:
— É só uma colega, Antônio.
Mas ele não acreditou. Segurou seu braço com força, os olhos ardendo de ciúme.
— Você acha que eu sou idiota? Eu sei quando você mente pra mim!
Nos dias seguintes, Antônio começou a persegui-la de forma sufocante. Aparecia de surpresa na porta da faculdade, ligava dezenas de vezes, revistava sua bolsa e até tentava mexer no celular escondido.
Clara sentia-se prisioneira de novo — mas agora havia dentro dela uma chama que não podia mais apagar: o amor por Marina.
O peso do feitiço se mostrava mais cruel do que nunca. Antônio não a amava apenas. Ele a venerava, a idolatrava, a tratava como se fosse a única razão de sua existência. E isso o deixava perigoso.
Uma noite, ele a esperou na saída da faculdade. Quando viu Marina se aproximar para se despedir, correu até elas, furioso.
— Sua vagabunda! — gritou, empurrando Clara contra a parede. — Você me faz de palhaço? Com outra mulher?
Marina tentou intervir, mas ele a empurrou com violência. O olhar de Clara, cheio de ódio e lágrimas, foi o que o paralisou. Pela primeira vez, ela gritou sem medo:
— Chega, Antônio! Eu não te amo! Nunca te amei! Você nunca foi meu!
O silêncio após aquelas palavras foi ensurdecedor. Ele tremia, sem conseguir acreditar no que ouvia.
— Isso é por causa dessa mulher, não é? — balbuciou. — Você não pode me deixar, Clara… eu não vivo sem você.
Mas Clara já havia tomado a decisão. Naquela noite, fez as malas às pressas. Pegou o filho nos braços e foi embora para a casa de uma amiga.
Antônio, desesperado, passou a segui-la por todos os lugares. Parava o ônibus perto da faculdade para espiá-la, aparecia na porta da amiga implorando, chorava, ameaçava se matar.
A amarração feita anos antes havia se transformado numa prisão não apenas para Clara, mas para ele também. Ele não conseguia se libertar, mesmo sabendo que ela nunca mais voltaria.
A separação estava feita, mas a obsessão de Antônio só aumentava. E Clara, mesmo livre no papel, sabia que ainda vivia sob a sombra de um homem que a perseguiria até o fim.
Capítulo 5 – O Laço do Catimbó
Após a separação, Clara finalmente acreditou que teria um pouco de paz. Alugou uma pequena casa com ajuda de uma amiga e passou a viver apenas com o filho. Marina era sua força, sua alegria, sua razão de continuar. Juntas, sonhavam com um futuro simples, mas verdadeiro, onde não precisariam mais se esconder.
Mas Antônio não desistira.
O feitiço que o prendia a ela tinha se tornado uma corrente pesada, que agora se arrastava pela vida de todos. Longe de Clara, ele começou a definhar. Emagrecia, não dormia, não conseguia trabalhar direito. Seu coração batia em ritmo descontrolado sempre que pensava nela.
Nas primeiras semanas, ele insistiu em aparecer com flores, cartas, presentes. Batia à porta de Clara e implorava:
— Volta pra mim, Clara. Eu não sei viver sem você.
Ela, firme, respondia:
— Acabou, Antônio. Eu não te amo. Você precisa seguir sua vida.
Mas ele não aceitava. Quanto mais ela se afastava, mais ele enlouquecia. Passou a seguir Marina, observando de longe, tentando descobrir onde trabalhava, com quem andava. Clara percebeu que vivia sob constante vigilância.
O ponto mais sombrio veio quando Antônio, transtornado, disse diante dela uma frase que a fez gelar:
— Se você não voltar pra mim, vou tirar de você o que você mais ama.
Clara entendeu o recado. Não era preciso pronunciar a palavra proibida — a ameaça estava clara. Ele falava do filho. Seu coração disparou, o instinto materno gritou dentro dela. Naquele instante, não era apenas sua liberdade que estava em risco, mas a vida do menino.
Desesperada, procurou a mãe, que confessou com lágrimas:
— Filha, eu errei… fui eu quem pediu aquele catimbó. Achei que era pra te proteger, pra te dar um lar. Mas agora percebo que foi uma prisão.
Antônio, cada vez mais perturbado, voltou a procurar Mãe Zefa, a mesma rezadeira que anos antes havia feito a amarração. Só que dessa vez, o pedido foi diferente:
— Eu quero que ela sinta por mim o que eu sinto por ela. Quero que ela volte, custe o que custar.
A rezadeira, com os olhos pesados de quem sabe brincar com fogo, avisou:
— Cuidado com o que pede. Forçar coração de mulher é como tentar prender vento nas mãos. Quanto mais aperta, mais escapa.
Mas ele não quis ouvir. Entregou dinheiro, pediu rituais, passou a carregar objetos amarrados em seu bolso, andar com pulseiras vermelhas, acender velas todas as noites.
Enquanto isso, Clara se tornava cada vez mais forte ao lado de Marina. Pela primeira vez, ela se via amada de verdade, sem dívidas, sem obrigações, sem nojo. Apenas amor. Marina ajudava o menino nos estudos, cozinhava com ela, caminhava de mãos dadas quando podiam. Era uma vida simples, mas plena.
Só que a sombra de Antônio nunca desaparecia. Ele rondava a casa, deixava bilhetes debaixo da porta, ligava de números diferentes, aparecia do nada com olhar febril.
— Você é minha, Clara. Sempre foi. Esse menino é meu filho. E eu não vou abrir mão da minha família.
Cada palavra dele era como uma faca invisível, cortando a paz que ela tanto buscava.
O catimbó, que um dia havia unido os dois, agora se tornava a prisão de um homem que não conseguia se libertar.
E Clara, mesmo decidida a seguir seu caminho, sabia que a batalha ainda não havia terminado.
A cada passo em direção à liberdade, mais forte parecia a corrente que Antônio arrastava atrás de si.
Capítulo 6 – A Libertação
Depois da separação, Clara sentia que sua vida finalmente começava a se reconstruir. Ela morava com seu filho, trabalhando para manter tudo em ordem, e tentava, com a ajuda de Marina, encontrar um pouco de paz. Mas Antônio não desistia.
Ele estava obcecado. Cada passo que Clara dava, ele tentava acompanhar. Ligava sem parar, aparecia nos lugares que sabia que ela frequentava, sempre dizendo que “ela e o filho eram dele”.
— Você não vai me escapar, Clara. Nem você, nem ele… — dizia, com os olhos ardendo de possessividade.
A ameaça era clara: o menino era a moeda de chantagem. Mas Clara já não era mais a mesma. Aprendera a enfrentar o medo e a se proteger. Procurou ajuda legal, fez medidas de proteção e contou com Marina e sua mãe, que finalmente ajudou a desfazer a macumba que havia feito anos antes.
Antônio, cada vez mais desesperado, continuava tentando trabalhos espirituais para obrigar Clara a amá-lo de novo, mas nada funcionava. Quanto mais ele tentava, mais ela se afastava. Ela havia criado uma armadura invisível que nem o catimbó conseguia quebrar.
Numa noite chuvosa, ele apareceu na porta de Clara, furioso, carregando velas e amuletos:
— Eu não vou perder você! — gritou. — Você não pode me deixar!
Clara olhou para ele firme, com os olhos cheios de determinação:
— Antônio, acabou. Você não manda na minha vida. Não manda no meu filho. Eu sou dona do meu destino.
Ele parou, respirando com dificuldade, como se pela primeira vez percebesse que não poderia controlar nada. A obsessão que o havia consumido durante anos começou a perder força.
Nos meses seguintes, Clara, Marina e o filho mudaram-se para outra cidade. Construíram uma rotina tranquila, longe da sombra do passado. Antônio continuou existindo como lembrança de uma obsessão doentia, mas Clara não tinha mais medo.
O amor verdadeiro e a coragem finalmente venceram a prisão invisível que Antônio havia criado. Clara respirou aliviada, sabendo que poderia criar seu filho em paz, amar quem escolheu e viver sua vida sem correntes.
E assim, a história terminou com liberdade, amor e esperança — mostrando que até os vínculos mais sombrios podem ser quebrados quando a coragem e o amor verdadeiro se unem.





