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Entre Olhares e Silêncios

 


Capítulo 1 – Entre Olhares e Silêncios

Isabela sentia o peso de cada passo ao entrar no consultório. O silêncio branco das paredes ecoava sua ansiedade, como se sua história estivesse sendo contada antes mesmo de ela abrir a boca.

Fazia mais de um ano que havia abandonado o anticoncepcional. A decisão tinha sido dela, e seu corpo reagira de forma confusa. A menstruação desapareceu, dores esporádicas surgiram, e o espelho passou a refletir uma mulher que ela já não reconhecia.

Cláudia entrou pontualmente. O jaleco alinhado, os cabelos presos em um coque e os olhos claros por trás dos óculos lhe davam uma presença calma, quase hipnotizante. Era sua segunda consulta com ela, mas algo naquela médica despertava um sentimento novo e inquietante.

— Você emagreceu — disse Cláudia, com um leve sorriso, enquanto analisava os exames.

— Sim… academia. E dieta. Mas minhas mamas continuam grandes… a senhora tinha dito que iriam diminuir.

Cláudia ergueu os olhos e a observou por um instante mais longo do que o esperado.

— E quem disse que isso é um problema?

Isabela corou. A maneira como a médica falou aquilo… suave, quase como um elogio. Mas logo sacudiu a cabeça, tentando afastar o pensamento. Ela estava ali como paciente, nada mais.

— Doutora… eu tenho sentido dor… durante relações.

— Dor? De que tipo?

Isabela hesitou. Inspirou fundo.

— Sou lésbica.

Cláudia pareceu surpresa, mas não desconfortável. Apenas… tocada.

— Entendo. E por que nunca mencionou isso antes?

— Achei que não fosse necessário… não costumo dizer isso para qualquer pessoa.

— Não precisa ter vergonha de mim, Isabela.

O nome dela na boca de Cláudia soou como um carinho. E por um instante, as duas ficaram presas naquele momento, em silêncio. O ar pareceu mais denso. Mais íntimo.

Isabela se levantou para sair, mas Cláudia a chamou, com a voz mais baixa do que antes.

— Espera. Suas mamas… são lindas, sabia?

Isabela congelou. O coração disparou.

— Doutora…

— Cláudia — corrigiu ela, com um meio sorriso. — Me chama de Cláudia, quando estivermos sozinhas.

— Por quê?

Cláudia deu um passo à frente, mas ainda respeitando o espaço entre elas.

— Porque, às vezes, eu esqueço que sou só sua médica.


Perfeito! Aqui está o próximo capítulo:

Capítulo 2 – Linhas que se cruzam

O dia seguinte amanheceu como qualquer outro, mas nada em Isabela era comum naquela manhã. O toque da médica ainda pulsava em sua memória, mesmo sem ter havido toque algum. Era a voz, o olhar, a maneira como Cláudia havia dito seu nome… Havia algo ali que ultrapassava os limites de uma simples consulta médica.

Tentou se distrair. Foi à academia, conversou com colegas, respondeu mensagens. Mas nada impedia as lembranças de voltarem. A sensação estranha — um misto de confusão, vergonha e… vontade.

No fim da tarde, seu celular vibrou. Uma mensagem inesperada:

Número desconhecido: “Isabela, aqui é a Dra. Cláudia. Desculpa mandar mensagem fora de horário, mas fiquei pensando em você. Queria saber se está tudo bem.”

Seu coração disparou. Não sabia se respondia. Mas respondeu.

Isabela: “Oi, doutora… tô bem, sim. Só surpresa por sua mensagem.”

Cláudia: “A gente pode conversar? Fora do consultório. Como… mulheres, não médica e paciente.”

Isabela relutou por um segundo. Sabia que havia riscos, sabia que aquilo não era o certo, mas havia algo em Cláudia que fazia tudo parecer inevitável.

Isabela: “Pode ser. Hoje?”

Cláudia: “Hoje.”

O encontro foi em uma cafeteria discreta, longe do centro da cidade. Cláudia já estava lá, sentada perto da janela, vestindo algo simples, sem o jaleco — e, ainda assim, com a mesma elegância de sempre.

— Obrigada por vir — disse ela, quando Isabela se aproximou.

— Eu ainda não sei por quê estou aqui — respondeu Isabela, sincera.

Cláudia sorriu de leve, como quem entende a dúvida, mas não se arrepende.

— Eu também não sei. Só sei que, desde ontem, você não saiu da minha cabeça. E… isso não é profissional. Eu sei disso.

— Então por que continuar?

Cláudia olhou nos olhos dela. Pela primeira vez, sem máscara, sem crachá, sem autoridade. Apenas mulher.

— Porque com você eu me sinto viva. E eu já passei tempo demais vivendo só pelos outros.

Isabela sentiu o chão fugir. Não estava preparada. Mas, ao mesmo tempo… esperava por isso.

Cláudia estendeu a mão por sobre a mesa, devagar. Isabela, sem pensar, tocou.

Duas mulheres. Duas histórias. Duas solidões que, enfim, se encontravam.

Capítulo 3 – A Travessia

As mãos entrelaçadas sobre a mesa diziam mais do que qualquer palavra. Cláudia parecia aliviada por se permitir sentir, e Isabela, embora assustada, estava entregue ao momento.

— Eu sempre fui tão reservada — disse Cláudia, baixinho. — A medicina me ensinou a controlar tudo. Emoções, impulsos… até a forma de amar. Mas com você, Isabela, eu não consigo manter esse controle.

— E por que eu? — ela perguntou, com a voz embargada. — Eu sou só… uma paciente.

Cláudia sorriu com ternura.

— Não é isso que você é. Desde o primeiro instante, houve algo em você. Uma dor silenciosa. Uma força. Uma doçura também… E talvez porque você não esperava nada de mim, eu quis te dar tudo.

O silêncio que se formou depois foi profundo, denso como um abraço. Ali, naquela cafeteria escondida do mundo, elas atravessavam uma fronteira invisível — de médico e paciente para duas mulheres prestes a viver algo intenso.

**

Nos dias seguintes, Isabela andava diferente. Sentia-se viva, desejada, mas também em conflito. Sabia que aquilo era delicado, perigoso até. Contou apenas à sua melhor amiga, que reagiu com um misto de surpresa e entusiasmo:

— Você tá me dizendo que a médica… aquela médica maravilhosa, elegante, chique… tá apaixonada por você?

— Parece que sim — respondeu, tímida.

— Amiga, isso é um roteiro de filme. Você vai viver isso ou fugir?

Isabela riu, mas no fundo sabia que fugir não era mais uma opção.

**

Já Cláudia, no hospital, carregava um novo brilho nos olhos — e um novo peso no coração. Seus colegas notavam que ela sorria mais, mas ninguém imaginava o motivo. À noite, relembrava cada detalhe da conversa, da pele de Isabela, da coragem que sentiu ao se permitir viver algo fora das regras.

**

Um fim de semana depois, Cláudia a chamou para jantar em sua casa. Foi tudo simples — massa, vinho, uma música suave ao fundo. Mas quando Isabela entrou, viu no olhar da médica algo mais profundo: amor.

— Você tem certeza disso? — perguntou, quando estavam sentadas no sofá, próximas.

— Pela primeira vez em anos, tenho — disse Cláudia, tocando o rosto dela com delicadeza.

Elas se beijaram. Um beijo que não foi apressado, nem tímido. Foi inteiro, entregue. Como se ambas soubessem que ali começava algo que não teria mais volta.

Naquela noite, entre beijos e confidências, lágrimas e carícias, Isabela deixou de ser apenas paciente. E Cláudia deixou de ser apenas médica. Elas se tornaram duas mulheres apaixonadas, atravessando juntas a travessia do medo para o amor.

Capítulo 4 – Tempestades e Coragem

O romance entre Isabela e Cláudia crescia silenciosamente, mas a cada novo passo, surgiam novas dúvidas. Elas se viam em momentos de felicidade genuína, mas também em situações que desafiavam suas convicções. O medo do julgamento, da repressão, da ética que tornava o relacionamento delas tão arriscado, pairava no ar.

Uma manhã, ao entrar no consultório, Isabela notou algo diferente em Cláudia. Ela parecia distante, o olhar cansado, como se carregasse o peso de algo que não poderia compartilhar.

— O que aconteceu? — Isabela perguntou, ao se sentar na cadeira de frente para a médica.

Cláudia desviou o olhar por um momento, antes de respirar fundo e responder:

— Eu… eu pensei que poderia controlar tudo. Mas com você, isso é mais difícil. Tem sido difícil manter a distância profissional… E eu não posso perder meu trabalho. Não posso perder tudo que construí.

Isabela sentiu um nó na garganta. Sabia que Cláudia estava em uma encruzilhada, entre a vida que havia escolhido e a paixão que agora queimava dentro dela.

— Você tem medo do que as pessoas vão pensar? — Isabela perguntou, com a voz suave.

Cláudia olhou diretamente para ela, e pela primeira vez, a médica parecia vulnerável.

— Não é só isso. O que aconteceria se você fosse julgada? Se tudo o que construímos se desmoronasse por causa de um erro? Ou pior, se alguém soubesse que você e eu estamos juntas? Você está disposta a encarar isso?

Isabela se levantou e foi até ela, aproximando-se lentamente. A dor que Cláudia demonstrava a fazia querer abraçá-la, protegê-la.

— Eu não me importo com o que as pessoas pensam, Cláudia. Só me importa o que sentimos uma pela outra. O resto… o resto podemos enfrentar juntas. Mas se você desistir de mim agora… será mais difícil do que qualquer coisa que já tenha enfrentado.

Cláudia a olhou profundamente, os olhos marejados, e Isabela sentiu sua própria alma se quebrar em pedacinhos com o peso daquelas palavras. A vida de ambas estava em jogo, mas o que mais pesava era a intensidade do que elas sentiam.

**

Naquela noite, depois da consulta, Cláudia decidiu se afastar para refletir. Ela precisava de um tempo para pensar, para reorganizar sua vida. O dilema era grande demais para ser resolvido em um simples encontro.

Isabela, no entanto, não conseguiu dormir. Ela sabia que o tempo estava se esgotando, que as palavras de Cláudia ainda ecoavam em sua mente. Estava disposta a enfrentar qualquer coisa, desde que fosse ao lado de Cláudia.

No meio da noite, ela decidiu que não poderia esperar mais. Pegou seu celular e enviou uma mensagem, simples, mas cheia de emoção:

Isabela: “Se for para enfrentar o mundo inteiro, quero fazer isso ao seu lado. Não importa o que aconteça, Cláudia. Não importa se é difícil. Não importa se estamos erradas. O que importa é o que sentimos.”

**

Cláudia leu a mensagem antes de dormir, e as palavras de Isabela foram o alicerce que ela tanto precisava. Na manhã seguinte, ela já sabia o que fazer. Precisava dar um passo no escuro, porque, no fundo, sabia que o amor delas não podia ser negado. Não havia mais espaço para esconder o que era verdadeiro.

**

No consultório, o clima estava tenso. Quando Isabela entrou, Cláudia a olhou com um sorriso triste.

— Eu pensei muito, Isabela. Sobre tudo. E sei que talvez eu esteja cometendo um erro, mas… não posso mais viver com medo.

Isabela a encarou, os olhos brilhando.

— Não é um erro, Cláudia. É a nossa chance.

Cláudia se aproximou e, pela primeira vez, tomou a mão de Isabela com firmeza. Era um gesto pequeno, mas significativo. O mundo lá fora podia ser cruel, mas ali, naquele momento, elas tinham uma só verdade.

— Então, vamos enfrentar isso juntas — disse Cláudia, com um sorriso. — Não importa o que aconteça.

Isabela sorriu de volta, um sorriso genuíno, cheio de promessas e coragem.

— Juntas.

E ali, entre um toque de mãos e a confusão do mundo, elas se deram a chance de viver algo real. Não havia mais fronteiras, nem medo, apenas um amor que começava a florescer em meio às tempestades que ainda viriam.

Capítulo 5 – O Caminho das Escolhas

A decisão foi tomada, mas o caminho não seria fácil. O amor que Cláudia e Isabela sentiam uma pela outra ainda enfrentava as sombras da dúvida, os sussurros da sociedade e os próprios fantasmas de suas próprias inseguranças. A cada novo dia, o mundo ao redor parecia querer testá-las, como se o simples ato de se entregarem ao amor fosse um desafio a ser vencido.

Nos dias que se seguiram, elas se viam em encontros furtivos, pequenos momentos roubados do cotidiano que logo seriam consumidos pela necessidade de manter as aparências. Cláudia, ainda em seu consultório, tentava não se deixar levar pela saudade constante, mas as palavras de Isabela, os toques suaves, os olhares carregados de desejo, estavam em sua mente o tempo todo.

A cidade, grande e barulhenta, não sabia o que se passava entre as duas mulheres. Mas havia algo em Cláudia que estava mudando. Ela começava a perceber que não poderia viver uma vida dividida, uma vida em que ela não fosse totalmente ela mesma.

**

Num dia de chuva forte, Cláudia chegou ao trabalho mais cedo do que o habitual. Quando entrou no consultório, notou que havia uma mudança no ambiente. Isabela estava lá, esperando por ela. A jovem estava sentada na cadeira, com uma expressão decidida, mas também com um leve temor nos olhos.

— O que aconteceu? — Cláudia perguntou, seu coração acelerando ao ver Isabela ali, naquele momento tão delicado.

Isabela se levantou, sua postura firme, mas seus olhos mostravam um misto de vulnerabilidade e coragem.

— Eu não posso continuar me escondendo. Não podemos continuar nos escondendo, Cláudia. Eu sei que é difícil, mas não dá mais para viver com essa dúvida. Eu te amo, e não quero mais esconder isso de ninguém, nem de você.

Cláudia sentiu o peito apertar. O que Isabela estava propondo não era simples. Não era só sobre amor, mas sobre todas as consequências disso. O peso das escolhas se tornou mais real naquele instante. Ela estava prestes a entrar numa batalha, não contra algo que estivesse fora de seu controle, mas contra tudo o que ela acreditava ser seguro.

— Você sabe o que isso significa? — Cláudia perguntou, a voz baixa e tensa. — Sabe as implicações disso? Eu não posso simplesmente ignorar o que pode acontecer. Não posso ser imprudente com a sua vida, nem com a minha.

Isabela deu um passo à frente e segurou a mão de Cláudia, seus dedos entrelaçando-se com força.

— Eu sei o que pode acontecer. Mas, ao mesmo tempo, sei o que não pode mais acontecer: ficar na dúvida, viver na sombra, perder o que sentimos. O que é mais importante, Cláudia? A gente se amar ou o que os outros vão pensar?

Cláudia fechou os olhos por um momento. Aquela pergunta fez seu coração acelerar, mas a resposta estava clara dentro dela. Ela sentia o mesmo. Mas a realidade era difícil de aceitar.

— Eu não posso perder minha carreira… a confiança das pessoas. Não posso… — Cláudia começou a dizer, mas Isabela a interrompeu.

— E se você perder o que mais importa, que é a sua verdade? A gente pode enfrentar tudo. Juntas. Vamos enfrentar isso, Cláudia.

As palavras de Isabela eram como um raio, iluminando o caminho escuro diante delas. Cláudia sabia que não poderia continuar vivendo em duas realidades, como se fosse possível manter a fachada e, ao mesmo tempo, viver um amor verdadeiro. Ela não poderia viver para agradar aos outros, se isso significasse negar sua própria felicidade.

Com um suspiro profundo, Cláudia finalmente olhou para Isabela, e um sorriso tímido, mas decidido, apareceu em seus lábios.

— Então vamos. Se for para viver isso, vamos viver de verdade. Sem medo, sem mais hesitação.

**

O caminho a partir dali não seria fácil. No dia seguinte, Cláudia tomou a decisão de falar com a direção do hospital. Ela sabia que o ato de expor sua relação com Isabela poderia ser o fim de sua carreira, mas ao mesmo tempo, ela não poderia mais carregar o peso do segredo. O medo da perda era grande, mas a sensação de estar sendo fiel a si mesma era maior.

Quando a conversa com os superiores aconteceu, o silêncio foi profundo. Eles questionaram, discutiram as possíveis repercussões, mas Cláudia não vacilou. Estava disposta a enfrentar qualquer tempestade, porque seu amor por Isabela valia mais que qualquer título ou reconhecimento.

E quando Isabela soube da coragem de Cláudia, uma onda de alívio e gratidão a envolveu. Elas estavam, finalmente, livres para viver o que sentiam sem as amarras do medo. O julgamento dos outros era apenas uma parte da história. O que importava agora era o que elas construiriam juntas, sem mais segredos, sem mais correntes invisíveis.

**

O tempo passou, e o amor delas se fortaleceu. Enfrentaram desafios, olharam para o futuro com coragem e, ao contrário do que muitas pessoas imaginavam, não perderam tudo. Pelo contrário, conquistaram algo muito mais valioso: a liberdade de serem quem realmente eram, sem medo de se entregar ao que sentiam.

Em um dia de sol quente, Cláudia e Isabela estavam juntas no parque. Caminhavam de mãos dadas, sem se importar com os olhares alheios. O mundo ao redor era grande e barulhento, mas ali, naquele momento, nada mais importava.

O amor delas havia superado todas as barreiras. E agora, não havia mais nada que pudesse detê-las.


Capítulo 7 – O Futuro a Dois

Os meses seguintes foram como uma doce continuidade de tudo o que havia começado. Cláudia e Isabela foram tecendo, dia após dia, os fios do seu futuro, como se costurassem juntas um novo capítulo de suas vidas. A paixão e o companheirismo não eram apenas as bases de seu relacionamento, mas a alavanca que as fazia alcançar novas perspectivas de vida.

Elas finalmente estavam vivendo em sua própria casa. Um lar simples, mas acolhedor. Cada canto, cada detalhe, refletia quem eram: dois corações dispostos a viver o amor de maneira plena, sem medos ou limitações.

Cláudia, que antes passava tantas noites em claro se perguntando sobre as escolhas que fizera, agora olhava para o futuro com a tranquilidade de quem encontrou seu propósito. Isabela, com seu sorriso que iluminava os dias mais nublados, era a razão pela qual Cláudia acreditava que qualquer obstáculo poderia ser superado.

Em uma tarde de sábado, enquanto arrumavam a casa, Isabela entrou com um sorriso de orelha a orelha, segurando um envelope na mão.

— Olha o que eu encontrei na gaveta! — disse, agitada.

Cláudia se aproximou, curiosa, e Isabela entregou-lhe o envelope. Ao abrir, Cláudia viu que era o resultado dos exames ginecológicos que ela havia feito meses antes, antes de começarem sua jornada juntas. Ela havia esquecido completamente daquele momento tenso, mas, agora, com Isabela ao seu lado, ela sentia que a vida seguia num fluxo harmonioso.

— Está tudo bem, Cláudia. Está tudo bem — Isabela sussurrou, abraçando-a.

Cláudia olhou para o resultado dos exames, mas, mais importante que isso, olhou para o amor e a confiança que encontrou em Isabela. Aquela mulher que, no início, parecia ser apenas uma médica com um coração gentil, agora era seu tudo. O apoio, o alicerce, a parceira.

Isabela a olhou nos olhos, com uma seriedade de quem sabia que a vida estava oferecendo um momento único para ambas.

— Eu sempre soube, desde o primeiro momento em que te vi… você é mais forte do que imagina, Cláudia. E, por mais que o caminho tenha sido difícil, nós passamos por tudo isso juntas.

Cláudia sorriu, acariciando o rosto de Isabela. A voz de Isabela, com aquele toque suave e afetuoso, era tudo o que ela precisava para sentir que o mundo, finalmente, estava em equilíbrio.

— Eu não sei o que seria de mim sem você, Isabela. Você me deu a confiança que eu não sabia que existia em mim.

Isabela, com o olhar emocionado, se aproximou para beijá-la. Um beijo calmo, mas cheio de amor e cumplicidade, como um símbolo do novo começo delas.

A vida, com suas reviravoltas, trouxe à Cláudia a oportunidade de tomar decisões importantes. Ela havia sido chamada para ocupar uma posição de destaque no hospital, uma proposta que poderia significar uma grande virada em sua carreira. Mas, ao lado de Isabela, ela sentia que as prioridades haviam mudado. Não importava a posição, o reconhecimento ou o título. O que importava era o amor que compartilhavam.

Isabela, por sua vez, também tomou decisões importantes. Ela abriu um pequeno consultório, onde atendia suas pacientes com a mesma dedicação de antes, mas agora com um brilho diferente. Ela não só curava, mas também acolhia as histórias de mulheres como ela, que, muitas vezes, se viam perdidas ou desorientadas, como Cláudia um dia se sentiu.

Em uma noite tranquila, enquanto a lua cheia iluminava o céu, Cláudia e Isabela estavam na varanda, de mãos dadas, observando as estrelas. Elas não precisavam de palavras. O silêncio que as envolvia era suficiente. Sabiam que, a partir dali, o futuro que construíam juntas seria repleto de amor, aceitação e, principalmente, liberdade.

E foi naquela noite, sob o brilho da lua e o aconchego das estrelas, que elas prometeram que, independente de tudo, nunca mais se deixariam apagar uma da vida da outra. Juntas, tinham se encontrado, se libertado e, agora, se amavam de maneira mais profunda do que jamais imaginaram ser possível.

O recomeço delas, com toda sua intensidade e verdade, seria a história que elas contariam para o mundo. E, mais do que isso, seria a história que escreveriam a cada novo amanhecer, juntas.

Fim.

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