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Entre Dois Corações

 

 Capítulo 1: Raízes de Desejo

Fernando era um homem gentil, daqueles que sorriem fácil e sabem ouvir. Morava em outro estado, longe da família, onde construía sua vida aos poucos. Trabalhando, estudando, vivendo cada dia como dava. O que ele não esperava era encontrar Renata, uma mulher linda, intensa, com um brilho no olhar que hipnotizava.

Conheceram-se por acaso, em um evento de amigos em comum. A conexão foi instantânea. Em pouco tempo, os dois estavam inseparáveis. Saíam para jantar, riam juntos, faziam planos. Fernando se apaixonou. E depois de alguns meses, sentiu que era hora de dar um passo a mais.

— Quero que conheça minha família. Eles moram no interior, são simples, mas vão te adorar — disse, enquanto acariciava a mão dela.

Renata sorriu, aceitando o convite com entusiasmo.


A casa da família de Fernando era grande e rodeada por plantações. O céu parecia mais azul ali, o ar mais leve. Os pais o receberam com alegria, mas foi a irmã dele, Rebeca, quem ficou mais empolgada ao vê-lo.

— Até que enfim apareceu, sumido! — brincou ela, abraçando o irmão.

Quando os olhos de Rebeca encontraram os de Renata, algo aconteceu. Um choque interno, um silêncio estranho. Ela era… linda. Tão linda que chegou a doer.

— Você deve ser a Renata… — disse Rebeca, tentando disfarçar o impacto.

— Sou sim. E você é ainda mais bonita do que ele falou — respondeu Renata, com um sorriso leve.

Nos dias seguintes, Fernando se ocupou ajudando o pai, enquanto Rebeca se ofereceu para mostrar Renata os arredores. Saíam juntas todos os dias. Passeavam pelas plantações, conversavam por horas, colhiam frutas no pé. As mãos se encostavam às vezes — por acaso, ou não. E os olhares demoravam mais do que o necessário.

Até que, em uma tarde quente, Rebeca levou Renata para conhecer o rio escondido atrás das colinas.

— Aqui é o meu lugar favorito — disse, tirando os sapatos.

— É lindo mesmo… — Renata respondeu, observando a água cristalina.

As duas entraram no rio, ainda de lingerie, brincando como adolescentes. Molhavam-se, jogavam água uma na outra, riam alto. Mas o riso foi diminuindo, dando lugar a algo mais denso, mais carregado.

Rebeca encarou Renata por um instante, seus olhos mergulhados de desejo contido.

— Você é… maravilhosa — sussurrou, sem perceber que estava dizendo em voz alta.

Renata ficou em silêncio, apenas devolvendo o olhar, com o coração acelerado.

Mas antes que qualquer coisa acontecesse, o som do carro de Fernando cortou o momento. Ele havia voltado da cidade. As duas saíram da água às pressas, disfarçando.

No caminho de volta para casa, os olhares entre elas se cruzavam, tímidos, carregados de um desejo que nenhuma das duas ousava confessar. Era errado. Era confuso. Era proibido.

Mas era real.

A partir dali, passaram a fazer tudo juntas. Cozinhavam, colhiam ervas, preparavam doces, passeavam. Rebeca parecia ter esquecido o mundo lá fora, só querendo estar ao lado de Renata. E Renata… se deixava levar.

Mas nenhuma das duas tinha coragem de atravessar a linha. Até que um dia, o pai de Fernando o chamou para uma pescaria de três dias.

— Eu não sei… — ele hesitou. — Não quero deixar vocês sozinhas.

Renata sorriu, serena.

— Vai, amor. A gente vai ficar bem. Rebeca vai cuidar de mim.

O olhar entre as duas foi rápido. Mas dizia tudo.


Naquela noite, com Fernando longe, Rebeca convidou Renata para um passeio pela cidade. Visitaram uma feirinha, compraram flores, jantaram em um restaurante pequeno, com vinho tinto e luz baixa.

— Não sei o que está acontecendo comigo — disse Rebeca, depois da segunda taça. — Mas quando estou perto de você… sinto algo estranho.

Renata abaixou os olhos, mordendo o lábio.

— Eu também. E… aquele dia no rio… eu vi seu corpo. Achei lindo. E isso me assustou.

As duas voltaram para casa em silêncio, os corações pulsando forte.

No quarto de Rebeca, sentaram-se na cama com uma garrafa de vinho. A luz era baixa. Os rostos próximos.

E então, o ar ficou denso. O silêncio… perigoso.

Os olhos se encontraram. Os dedos se tocaram.

E nada mais parecia importar.

Capítulo 2: A Noite Queimava

O quarto de Rebeca estava silencioso, iluminado apenas pela luz amarelada do abajur. As taças de vinho estavam quase vazias, mas o calor entre as duas era mais forte que qualquer bebida.

Renata sentia o coração martelar dentro do peito. Rebeca estava linda, com os cabelos soltos caindo pelos ombros, o olhar intenso, os lábios úmidos. Estavam sentadas lado a lado na cama, os joelhos quase se tocando.

— Desde o dia do rio… eu penso nisso — murmurou Rebeca, quase sem coragem.

— Eu também. Penso em você… mais do que deveria — respondeu Renata, olhando-a nos olhos.

Rebeca se aproximou devagar, os olhos fixos nos de Renata. A mão dela tocou a coxa da outra, de leve, como se pedisse permissão.

— Isso é loucura… — sussurrou Renata, sentindo o corpo inteiro arrepiar.

— É. Mas eu não quero mais fingir que não sinto.

O beijo veio como um alívio e uma explosão. Macio no começo, depois profundo, urgente. As mãos se procuraram, os corpos se colaram. O vinho adormecia o mundo ao redor, mas os sentidos delas estavam mais vivos do que nunca.

As roupas caíram uma a uma, como se não houvesse pressa. Rebeca explorava cada parte de Renata como se estivesse tocando algo sagrado, desejado por tanto tempo. A pele dela era quente, cheirosa, e os suspiros que escapavam dos lábios deixavam Rebeca completamente entregue.

Renata a puxou para cima de si, os seios se tocando, o quadril se encaixando com perfeição. Os olhos não se desgrudavam. Era como se faziam amor não só com os corpos, mas com tudo o que sentiam, com toda a tensão acumulada nos últimos dias.

Gemidos baixos encheram o quarto, abafados entre beijos e mãos trêmulas. Rebeca descia os lábios pelo pescoço de Renata, depois entre os seios, e mais abaixo, até fazê-la estremecer de prazer. Renata a puxava pelos cabelos, arfando, gemendo o nome dela com os olhos fechados.

Foi intenso, quente, verdadeiro.

E quando terminaram, ainda nuas, cobertas apenas pelo lençol e pelo cansaço bom do desejo saciado, ficaram em silêncio por um tempo, respirando juntas.

— Isso muda tudo, né? — disse Rebeca, olhando para o teto.

— Já mudou — respondeu Renata, virando-se para ela, acariciando seu rosto. — Mas eu não me arrependo.

— Nem eu.

E então, adormeceram assim: entrelaçadas, como se o mundo lá fora não existisse, como se aquele momento fosse só delas.

Mas no fundo… ambas sabiam que, em breve, teriam que encarar a realidade. E Fernando.

Capítulo 3: Silêncio de Manhã

O sol invadia o quarto pelas frestas da janela, espalhando uma luz dourada sobre os lençóis amassados. Renata abriu os olhos devagar, sentindo o calor de um corpo ao lado. Por um segundo, achou que tinha sonhado — mas não. Rebeca dormia ali, nua, os cabelos bagunçados, os lábios entreabertos.

Renata a observou em silêncio, o coração apertado. A noite anterior tinha sido intensa, cheia de sentimentos e prazer. Mas agora… a realidade começava a se aproximar como uma tempestade silenciosa.

Levantou-se devagar, vestiu a calcinha e a camisa de Rebeca e foi até a cozinha. Precisava de ar. De tempo. De qualquer coisa que a ajudasse a entender o que estava sentindo.

Rebeca acordou pouco depois, e quando apareceu na cozinha, os olhos encontraram os de Renata. Havia um peso no ar, mas também uma ternura que nenhuma das duas queria negar.

— Bom dia… — disse Rebeca, com um sorrisinho tímido.

Renata abaixou os olhos, sorrindo de leve.

— Bom dia.

— Você tá bem?

Renata hesitou. Depois assentiu.

— Eu tô. Só… pensando.

— Eu sei. Eu também. — Rebeca se aproximou e segurou a mão dela. — Mas eu não me arrependo. E você?

Renata apertou os lábios, pensativa.

— Também não. Mas… ele é seu irmão.

O silêncio caiu entre elas. Denso. Incômodo.

— Eu nunca imaginei isso, Renata. Nunca me vi com uma mulher. Até você aparecer.

— E eu nunca me senti assim por alguém da família de quem eu estava com… — ela suspirou. — Mas com você… é diferente. Eu me sinto viva. Desejada. Vista.

Rebeca se aproximou, colando seus corpos de novo.

— Eu te vejo. E eu te quero.

O beijo veio outra vez, quente, urgente, cheio de fome. A camisa de Rebeca logo caiu no chão, as mãos de Renata explorando a pele já familiar. Beijaram-se ali mesmo, encostadas no balcão, como se o tempo fosse inimigo e cada segundo valesse ouro.

Rebeca se ajoelhou, beijando o ventre de Renata, acariciando suas coxas. E ali, no chão da cozinha, Renata gemeu seu nome, segurando nos cabelos dela, deixando o prazer tomar conta de tudo.

Quando se deitaram no tapete, ofegantes, entre beijos e carícias, o som de uma mensagem no celular interrompeu o momento.

Fernando.

“Oi, amor. Tudo bem por aí? Amanhã à tarde estou de volta. Com saudade.”

As duas se entre olharam.

O tempo que ainda tinham era curto.

Mas a chama entre elas… estava longe de se apagar.

Capítulo 4: Entre Mentiras e Desejo

O carro de Fernando parou na frente da casa ao entardecer. Renata e Rebeca estavam sentadas na varanda, com expressões controladas e corações inquietos.

— Meu amor! — ele disse, sorrindo ao sair do carro. — Que saudade!

Renata se levantou, tentando manter a naturalidade. Abraçou-o, beijando-o nos lábios com cuidado. Um beijo sem paixão. Sem verdade.

Rebeca observou em silêncio, o peito apertado.

Durante o jantar, Fernando contava histórias da pescaria enquanto as duas trocavam olhares escondidos, como se a pele ainda estivesse marcada pelo que tinham vivido.

— Vocês se deram bem, né? — ele perguntou, empolgado. — Até parece que se conhecem há anos.

— A gente… se entendeu — respondeu Rebeca, com um meio sorriso.

— Ela é incrível — completou Renata, o olhar indo direto para a irmã dele.

Naquela noite, Renata dormiu com Fernando. Mas não havia mais entrega. Seus pensamentos estavam em outro lugar. Em outro corpo. Em outro toque. Ela se virou várias vezes na cama, até que finalmente levantou e saiu do quarto devagar.

Rebeca estava acordada, sentada na beira da cama.

— Eu sabia que você viria — disse, num sussurro.

Renata se aproximou e ajoelhou diante dela.

— Eu não sei como parar. Não sei como fugir disso.

Rebeca a puxou para um beijo, calando qualquer dúvida. Os corpos se encontraram outra vez, com urgência, com fome, com saudade do toque. Fizeram amor em silêncio, contido, abafando os gemidos em beijos profundos.

O prazer foi intenso, mas o depois foi ainda mais pesado.

— Não dá pra continuar assim, Renata. A gente vai acabar se machucando.

— Eu sei… — disse ela, com lágrimas nos olhos. — Mas e se… e se a gente se escolher?

O silêncio da madrugada pareceu dar a resposta que elas não conseguiram encontrar.

E a dúvida, agora, era: elas teriam coragem de enfrentar tudo?

Capítulo 5: O Flagra

O dia seguinte chegou lento e tenso.

Renata evitava os olhos de Rebeca. Rebeca fingia estar ocupada o tempo todo. Fernando, sem perceber nada, fazia planos sobre voltar pra cidade, sobre o futuro… sobre os três.

Mas entre Renata e Rebeca, tudo era silêncio e pulsação contida.

Elas mal conseguiam ficar no mesmo cômodo sem que o corpo gritasse lembranças da noite anterior. Os beijos. Os toques. Os sussurros. Tudo ainda vivo sob a pele. Mas agora coberto por uma camada de medo. E culpa.

À noite, deitada ao lado de Fernando, Renata tentava dormir. Ele acariciava seu cabelo, carinhoso… mas era como se tocasse outra pessoa. Seu corpo não reagia. Seu coração estava longe.

Levantou-se com cuidado, dizendo que ia beber água. Na cozinha, acendeu apenas a luz do fogão.

E ali, como se o destino conspirasse, Rebeca estava parada, com o copo na mão, de camisola, os olhos brilhando na penumbra.

— Você também não consegue dormir? — murmurou Rebeca.

— Não… — Renata suspirou. — Eu fico pensando no que a gente fez. No que a gente é. E em como eu tô me sentindo vazia sem você.

Rebeca se aproximou, devagar, como quem caminha sobre vidro.

— Eu tentei te evitar hoje. Mas cada vez que te vi… eu queria te tocar. Te abraçar. Te beijar.

— Eu também. Mas… e Fernando?

O nome dele pesou no ar. As duas se encararam em silêncio.

— Você é a mulher do meu irmão, Renata. Mas eu… eu me apaixonei por você. E isso tá me destruindo por dentro.

Renata segurou o rosto dela entre as mãos.

— Eu também te amo, Rebeca.

E ali, no meio do silêncio da madrugada, elas se beijaram. Sem culpa. Sem medo.

O desejo explodiu. A camisola caiu. Beijos se espalharam por pescoços, seios, ventre. As mãos se exploravam com urgência e amor. No chão da cozinha, entre sussurros abafados e corpos entrelaçados, elas fizeram amor.

Mas um som cortou tudo como uma faca.

— O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?!

Fernando estava parado na porta. Olhos arregalados. Boca aberta. O peito arfando de raiva e incredulidade.

Renata se cobriu às pressas, tentando encontrar palavras. Rebeca se levantou, o rosto pálido.

— Fernando… — começou ela.

— Vocês duas?! Vocês estão…?! — ele gritou, a voz embargada.

Renata se levantou, ainda nua, mas firme.

— Me escuta. Por favor.

— Não tem o que escutar, Renata! Era comigo que você tava! Comigo! E você… — ele apontou para a irmã, com os olhos cheios de lágrimas — você é minha irmã!

Rebeca chorava agora. Mas não recuou.

— Eu nunca quis te ferir, Fernando. Mas eu amo ela.

Fernando ficou imóvel. Depois, virou-se e saiu batendo a porta com tanta força que a parede tremeu.

O silêncio voltou, sufocante.

Renata abraçou Rebeca.

— Agora ele sabe. Agora o mundo desabou. Mas eu não me arrependo.

— Eu também não.

Elas ficaram ali, juntas, no chão, nuas e frágeis, mas finalmente livres.

Mesmo que o amor delas viesse com cicatrizes.

Fim.

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