Título: Colisão do Destino
Capítulo 1 – Impacto
Lucas acelerava pelas ruas de São Paulo com os olhos no relógio. Era engenheiro de uma grande construtora e tinha uma reunião importante em menos de vinte minutos. O trânsito, como sempre, parecia uma entidade maligna disposta a arruinar seus planos. Quando finalmente viu o semáforo abrir, avançou sem hesitar.
Do outro lado, Gabriel manobrava seu carro com cuidado. Era motorista de aplicativo há dois anos, e estava em uma corrida curta, mas importante — a passageira era uma idosa simpática que precisava chegar ao hospital para uma consulta. Ele já ia completar a travessia quando, de repente, um carro prata surgiu em velocidade e… BUM!
O impacto não foi forte o suficiente para causar ferimentos, mas o susto foi considerável. Os carros ficaram amassados, e ambos os motoristas desceram imediatamente.
— Você não viu o sinal? — Lucas exclamou, ainda ofegante, o terno impecável já amassado pelo estresse.
— O sinal estava verde pra mim, cara! — rebateu Gabriel, com o boné virado para trás e os olhos atentos, tentando manter a calma.
A discussão aumentava a cada segundo, as vozes se sobrepondo, até que, impaciente, Lucas arrancou o celular da mão de Gabriel para tirar fotos dos documentos e resolver logo com o seguro.
— Ei! Isso é abuso, você tá louco? — disse Gabriel, puxando o telefone de volta.
A passageira, já retirada do carro por outro motorista solidário, apenas murmurou: “Homens…”
Capítulo 2 – Um Novo Tom
Dias depois, os ânimos haviam esfriado. Lucas, envergonhado pela sua atitude impulsiva, ligou para Gabriel.
— Escuta, eu não fui justo com você. Que tal a gente se encontrar e conversar melhor? Resolver isso como adultos.
Gabriel hesitou. Mas algo na voz de Lucas — talvez o tom genuíno de arrependimento — o fez aceitar. Marcaram num café simples, perto do centro.
Quando se encontraram, foi como se a raiva tivesse ficado no asfalto.
— Você parece menos bravo sem um volante na mão — brincou Gabriel.
Lucas riu, relaxando pela primeira vez em dias. Pediram cafés, sentaram-se, e a conversa começou técnica, falando sobre orçamentos, oficinas e seguro. Mas logo deslizou para temas mais leves: livros, filmes, e até futebol — mesmo torcendo por times rivais.
— Eu gosto do seu jeito direto — disse Gabriel. — Mesmo que um pouco… impulsivo.
— E eu do seu bom humor. Nem parece que bateu o carro — retrucou Lucas, sorrindo.
Capítulo 3 – Interseções
As trocas de mensagens aumentaram. Um convite para um food truck novo, uma piada sobre trânsito, um “bom dia” que virou hábito. Sem perceber, Lucas passou a procurar o nome de Gabriel no celular com mais frequência do que gostaria de admitir.
E Gabriel… bem, ele não conseguia parar de pensar no engenheiro de olhos atentos e sorriso contido.
O segundo encontro foi num bar de vinhos — escolha de Lucas. O terceiro, num parque — ideia de Gabriel. No quarto, não houve mais dúvidas.
Foi Gabriel quem tomou a iniciativa, segurando a mão de Lucas com delicadeza. Eles se olharam, em silêncio, até que um beijo tímido selou a nova fase do que havia começado com uma colisão.
Capítulo 4 – Ajustes
Nem tudo foi simples. Lucas, acostumado a uma vida estruturada, estranhava a rotina flexível de Gabriel. Já Gabriel se incomodava com a forma como Lucas parecia esconder o relacionamento dos colegas.
— Você tem vergonha de mim? — perguntou uma noite, no sofá da casa de Lucas.
— Não! É só que… eu nunca namorei um homem antes. É novo pra mim.
Gabriel respirou fundo. — Também é pra mim. Mas se a gente não arriscar, como vai saber?
Lucas encarou o parceiro. E então, como bom engenheiro, decidiu que algumas estruturas valem a reforma.
Capítulo 5 – Horizonte
Meses depois, os carros estavam consertados. Mas o que eles realmente haviam construído era algo muito mais valioso. Um laço que nasceu do caos e floresceu na calmaria.
Num domingo de sol, Gabriel estacionou em frente ao prédio de Lucas. Ele abriu a porta do carro, e dentro havia uma caixinha com duas alianças simples.
— Nada de impacto dessa vez. Só um pedido: vamos continuar construindo isso juntos?
Lucas riu, emocionado. — Só se for com você.
E assim, entre curvas inesperadas, sinais confusos e muitos cafés compartilhados, dois estranhos se tornaram parceiros. Porque às vezes, o destino colide justamente com quem a gente mais precisava encontrar.
Feito por Marta Marinho.



