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O Encontro do Lobo Solitário: Expectativa vs. Realidade

 

Nos tempos de Orkut e SMS, programas de rádio eram um dos poucos lugares onde se podia conhecer alguém de forma divertida e inesperada. Numa noite tranquila, Anastácia estava navegando pelas redes sociais quando o locutor da rádio favorita anunciou com entusiasmo:

“Alô, ouvintes! Aqui vai um recado especial: Lobo Solitário, moreno, forte e lindo, procura sua cara-metade. Interessadas, anotem o número!”

O coração de Anastácia disparou. Ela pegou papel e caneta e anotou o número rapidamente, sentindo aquela mistura de ansiedade e expectativa que só acontece quando algo parece realmente especial. Ela não conseguia parar de imaginar como seria conhecer alguém assim, mesmo sabendo que podia ser apenas mais uma aventura sem sentido.

No dia seguinte, cheia de coragem, Anastácia decidiu ligar. Quando ele atendeu, a voz do outro lado era firme, profunda e envolvente. Ela sentiu uma pontada de empolgação. Eles conversaram longamente, falando sobre gostos, hobbies, risadas, música, filmes… Anastácia se pegou sorrindo sozinha enquanto escutava cada palavra dele. Em um momento de curiosidade, ela perguntou:

“Me conta… como você é?”

E ele respondeu com uma confiança quase teatral:

“Sou alto, forte, malho todos os dias, sou simpático, educado, trabalhador… um verdadeiro lobo solitário procurando alguém especial.”

Anastácia, que tinha 1,80m, sentiu um frio de expectativa no estômago. Pela descrição dele, finalmente parecia ter encontrado alguém que seria o par perfeito para ela. A imaginação dela começou a criar cenários de um encontro perfeito, e quando ele a convidou para ir ao shopping, ela aceitou sem hesitar, cheia de esperança.

Nos dias que antecederam o encontro, Anastácia se preparou com cuidado extremo, como se cada detalhe fosse essencial para que aquele encontro se tornasse inesquecível. Fez as unhas, escolhendo uma cor elegante que combinasse com seu humor de expectativa e empolgação. Passou horas no cabelo, modelando cada mecha, ajustando cada ondulação para que caísse perfeitamente. Escolheu um vestido novo, sofisticado, mas discreto, e combinou com sapatos delicados. Passou seu perfume favorito, sentindo o aroma como se fosse um talismã de confiança. Cada pequeno detalhe foi pensado com carinho e cuidado. Ela olhou no espelho inúmeras vezes, ajustando o cabelo, conferindo a roupa, respirando fundo e tentando controlar a ansiedade que crescia a cada minuto. Ela se sentia pronta para viver um momento único, sonhando com a possibilidade de que aquele homem fosse realmente como ele tinha dito.

Mas quando chegou ao shopping, a realidade se chocou com todas as expectativas que ela havia construído. Ele estava lá, mas nada correspondia àquilo que ela imaginara. Era baixinho, tinha cerca de 1,50m, a barriga saliente, vestia uma bermuda rasgada, chinelo de dedo e uma camisa de time velha, com um boné torto na cabeça. Anastácia tentou não demonstrar o choque, mas assim que ele abriu a boca para falar, um hálito horrível a atingiu. Um cheiro forte que quase a fez passar mal. Ela respirou fundo, tentando se controlar, e ele percebeu:

“O que foi? Está tudo bem?”

Ela respondeu, tentando disfarçar:

“Tô com sede.”

Ele sugeriu que andassem pelo shopping, e ela pensou que finalmente comprariam uma água ou algo para se refrescar. Mas não foi isso que aconteceu. Eles começaram a andar, andar e andar, enquanto ele olhava vitrines, totalmente alheio à necessidade dela. Ela tentou manter o sorriso, mas cada passo aumentava a frustração e a decepção.

Depois de um tempo, ela sugeriu:

“Vamos tomar um sorvete?”

Ele respondeu casualmente:

“Depois… vamos andar mais.”

A cada minuto que passava, Anastácia sentia o desânimo crescer. Ela passou cerca de uma hora andando sem rumo, sem nenhuma consideração, até que finalmente não aguentou mais e perguntou:

“O que você tanto procura?”

Ele respondeu com naturalidade:

“Nada, só quero ver as lojas.”

Quando ela comentou que estava com fome e sede, ele completou, como se fosse a coisa mais normal do mundo:

“Não posso comprar nada… só trouxe dinheiro para a passagem de ônibus de ida e volta.”

O choque da realidade a atingiu como um balde de água fria. Tudo o que ela havia imaginado, todo o cuidado que tomou, toda a expectativa criada, desapareceu. Ela sentiu uma mistura de decepção, frustração e, ao mesmo tempo, uma pontada de raiva por ter acreditado naquelas promessas.

Cansada e percebendo que aquele encontro não tinha a menor chance de ser agradável, Anastácia decidiu agir. Com calma, disse:

“Vou ao banheiro rapidinho, me espera aqui, tá?”

Ele assentiu, distraído. Ela se afastou, respirou fundo e, assim que passou da porta do shopping, correu até o ponto de ônibus. Naquele momento, bloqueou o número dele e decidiu que nunca mais queria ter qualquer contato com aquele “lobo solitário”.

A experiência foi dolorosa, mas também trouxe uma lição valiosa. Nem tudo que parece perfeito por telefone ou por mensagens corresponde à realidade. É essencial manter os pés no chão, observar atitudes, marcar encontros em lugares públicos e, acima de tudo, valorizar seu amor-próprio. Às vezes, o clássico “vou ao banheiro e já volto” não é apenas uma saída estratégica, mas um verdadeiro ato de coragem e respeito por si mesmo.

Anastácia aprendeu que, por mais que as palavras possam soar encantadoras, a realidade sempre fala mais alto. E que ninguém merece investir tempo, energia e expectativas em alguém que não demonstra cuidado, respeito ou consideração.

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