O Lobisomem de Porto de Galinhas
Dizem os mais velhos que, muitos anos atrás, vivia em Porto de Galinhas um homem chamado Justino. Era um sujeito de coração duro, que tratava mal até a própria mãe, Dona Tereza — uma senhora simples, de fé forte, que vivia vendendo tapioca na beira da praia.
Justino não tinha compaixão. Gastava o pouco dinheiro que ganhava em cachaça e chegava em casa sempre mal-humorado. Quando a mãe lhe pedia ajuda, ele respondia com grosserias, às vezes empurrando-a ou quebrando as coisas dentro de casa.
Certa noite, depois de mais uma discussão, Dona Tereza chorou tanto que suas lágrimas caíram sobre a areia do terreiro. Desesperada, ela ergueu os braços para o céu e disse:
> “Que as pragas do Egito caiam sobre você, Justino! Que você sinta no corpo todo o peso da maldade que fez comigo. Que a lua cheia lhe mostre o que é ser amaldiçoado!”
Pouco tempo depois, começaram a circular histórias estranhas pela vila. Diziam que, nas noites de lua cheia, um animal enorme, de pelo preto e olhos vermelhos, rondava as ruas silenciosas. Galinhas sumiam, cães latiam sem parar, e quem ousava espiar pela janela jurava ver um vulto se arrastando entre as sombras, meio homem, meio fera.
Alguns reconheciam no monstro um detalhe assustador: o mesmo olhar duro de Justino.
Com o passar dos meses, Justino foi ficando cada vez mais recluso. Trabalhava durante o dia, mas no cair da tarde sumia sem deixar rastro. Ninguém mais o via depois que o sol se escondia — até que, numa noite de lua cheia, um pescador jurou ter visto o lobisomem se aproximar da água, como se quisesse lavar o sangue das garras no mar.
Dizem que, até hoje, quando a lua nasce enorme e prateada sobre Porto de Galinhas, pode-se ouvir uivos longos misturados ao barulho das ondas. Os mais antigos garantem: é Justino pagando o preço das maldades que fez à própria mãe, condenado a vagar pela praia como um lobisomem, toda vez que a lua cheia ilumina a areia.
